domingo, 4 de maio de 2014

Diário de Processo #2 - O Jardim das Delícias Terrenas


O Jardim das Delícias Terrenas é um tríptico de Hieronymus Bosch, que descreve a história do Mundo a partir da criação, apresentando o paraíso terrestre e o Inferno nas asas laterais. Ao centro aparece um Bosch que celebra os prazeres da carne, com participantes desinibidos, sem sentimento de culpa. A obra expõe ainda símbolos e atividades sexuais com vividez. Especula-se sobre seus financiadores, que poderiam ser adeptos do amor livre, já que parece improvável que alguma igreja tradicional a tenha encomendado.
Ligada à "utopia" por um lado, mas representando o lugar da vida humana por outro, Bosch revela uma atualidade do seu tempo, dado que essa vida está entre o paraíso e o inferno como se conta no Gênesis. O tríptico, quando fechado, tem uma citação transcrita desse livro "Ele mesmo ordenou e tudo foi criado". Entre o bem e o mal está o pecado, preposição cristã. No jardim, painel central, representações da luxúria, mensagem de fragilidade nas envolvências do vidro e das flores, refletem um carácter efémero da vida, passagem etérea do gozo, do prazer.
Enquanto "utopia", porque transcreve de modo imaginário na imagem um "real", que mais se aproxima do surreal, e representa, mesmo que toda a sociedade e a cultura Ocidental esteja marcada por essa estrutura, uma história “utópica” do seu tempo. Entre um “bem” e um “mal” está a vida e o pecado, de certo foi aplicado, mas no início seria apenas uma projeção.






   As imagens do quadro de Bosch permeiam o imaginário e os sonhos do Imperador. Estávamos conversando após um dos ensaios sobre a obsessão anal da personagem. A primeira resposta que demos foi também a mais obvia: sexual. Seria ele um homem mal resolvido com sua sexualidade? É uma fantasia, é apostasia, é rebeldia? Pode ser que sim, provavelmente seja tudo isso, mas ainda faltava alguma coisa. Encontrei ontem o que pode ser a peça que faltava. 

   Assistia um vídeo na internet para tentar entender a questão do "Vivan las cadenas", uma expressão que aparece no texto e remete a uma resistência política na Espanha, confesso que ainda não entendi muito bem, o fato é que essa busca me levou a uma gravura do Goya. Francisco de Goya é um pintor espanhol que conheci em 2010 através do brilhante filme do diretor também espanhol Carlos Saura, Goya in Bordeaux:


Assim como Arrabal, Goya nasceu na Espanha, se exilou na França, e tem suas obras marcadas pela guerra.

Também do Wikipédia:

Entre os anos de 1810 e 1814, produziu sua famosa série de pinturas "Los Desastres de la Guerra" e suas duas obras primas "El Segundo de Mayo 1808" e "El Tercero de Mayo 1808" (também conhecido como "Los fusilamientos en la montaña del Príncipe Pío" ou "Los fusilamientos del tres de mayo" ). Estas pinturas demonstram um uso de cores extremamente poderoso e expressivo. Pela primeira vez, a guerra foi descrita como fútil e sem glória, e pela primeira vez não havia heróis, somente assassinos e mortos.

Eis a peça que faltava no tabuleiro:


Diêgo Deleon

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