quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cômodos, criação do texto




Até onde vai a busca do ser humano por proteção pessoal? Três notícias de jornal serviram de base para o processo de criação de "Cômodos": Uma mulher que morava com o lixo, um homem que esperava a mulher ideal aos 35 anos e mantinha-se virgem para ela, e um garoto que dos 4 aos 18 anos fez voto de silêncio. Essas três pessoas foram o ponto de partida da nossa grande discussão a respeito do isolamento. Num mundo onde redes sociais se alastram com uma rapidez impressionante, a natureza reclusa do ser humano ainda está em questão. Buscamos uma linha de raciocínio sobre o isolamento pessoal e interpessoal, tentando interpretar e teatralizar essa busca e ao mesmo tempo, essa condição. Juntos, podemos está sós e sozinhos estamos sempre com alguma coisa. Os mecanismos de defesa que nutrem, refletem e também rejeitam as relações que envolvem toda a esfera social. Nosso trabalho será cobrir de arte esses conceitos recorrentes e tornar belo e intenso o produto final dessa discussão.
    
  
A condição do isolamento diz respeito à sensação de que mesmo juntos, estamos sós. Resolvemos falar sobre isso reunindo uma contraditória corrente de solidões. Juntos, nossos personagens permanecem alheios ao mundo. Alheios aos outros e a sí mesmos. Baseada nisso, a direção reúne uma série de elementos também contraditórios, brincando com os conceitos de espaço ao dilatar e comprimir o cenário, fazendo com que os personagens deslizem por essas liberdades espaciais. Cada um representa uma esteira livre do raciocínio, que ao passo em que pode ir para qualquer lugar, prefere manter-se detido dentro de suas próprias incapacidades. A direção do espetáculo busca essa mesma dilatação, levando os personagens para dentro e fora deles mesmos, e carregando a platéia consigo, ao mostrar às claras determinadas situações e às vezes, apenas deixando que trechos soltos escapem pelas fendas de luz de um dos cantos do cômodo.




    Uma voz não sai de dentro de sua cabeça. Um outro não que não quer o toque de mais ninguém. Há o que espera por quem nunca chega e também tem alguém que não quer esperar e luta fisicamente contra isso. Cada um numa esquina do cômodo, eles ignoram o imponderável que reside do lado de fora do lugar onde estão.

Henrique Haddefinir - autor do texto

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Ensaio Cômodos

Ensaio de Cômodos, o próximo espetáculo da Cia Pigmentus.


Crítica de "Phillip Glass compra pão" no Festival de Esquetes de Cabo Frio por Jiddu Saldanha


Não é surpresa que a aparentemente pacata Rio das Ostras tenha um grupo com tal nível de desenvolvimento técnico. Uma cidade que tem um festival nacional de teatro, um festival internacional de Blues e uma escola de teatro, certamente, está investindo na formação de jovens e atraindo fortes referências para seu território. Sendo assim, obviamente, não nos surpreende depararmos com um trabalho da magnitude deste “Phillip Glass Compra Pão”.
Este grupo é singular e inclassificável, prefiro fechar com a visão do mestre Facury que, em estado de êxtase se aproximou e disse: “Essa galera acabou de fazer pós-teatro” e parece que o público gostou.
Fiquei impactado com a tremenda criatividade e o nível de elaboração a que o trabalho chegou, apresentando um resultado bem acabado, enxuto e com um foco no ritmo cadenciado e diversificado. Um trabalho coreografado e rico em musicalidade e que pode ser apreendido até de olhos fechados.

O Grupo “Nós em Meio ao Caos” investiu na dramaturgia de David Ives, autor estadunidense nascido em 1950 e considerado um dos mestres da comédia contemporânea. Logo, um bom texto acompanhado de uma encenação segura e inventiva além de um elenco entrosado e bem ensaiado só podia mesmo dar no que deu; ser ovacionado pelo público que ficou feliz com a proposta.
O esquete “Phillip Glass Compra Pão”  teve como base a estética do também estadunidense Phillip Glass, que dá nome ao texto. Nascido em 1937 na cidade de Baltimore, ele estudou flauta e é considerado um dos pais do movimento minimalista. Seu trabalho ficou conhecido no Brasil, no início dos anos 80 e, atualmente, virou Cult, apreciado por pessoas que gostam de música, dança, cinema e teatro.
A peça teve seu ponto focal na excelência do elenco que, bem ensaiado, manteve-se presente do começo ao fim do espetáculo além de ótimo figurino e um cenário eficiente. A expressão corporal e vocal também colocou o trabalho em evidência.

(Jiddu Saldanha)

Fonte: Site do FESQ Cabo Frio